UMA VIDA CRISTÃ DE LIBERDADE - Parte 4

UMA VIDA CRISTÃ DE LIBERDADE - Parte 4
Pr Alex R. Carneiro

Cl 1.13 e 2.13a16; 1Pe 2.15,16 e

Respostas que são necessárias pois a liberdade bíblica nos põe diante de um aparente paradoxo e como principal fator da vida do crente – ser livre é ser submisso.
Vimos que biblicamente ser livre é passar da condição de objeto de dominação para sujeito de amor. É passar de escravo para filho. E que a liberdade nos isenta perante Deus e nos livra de Satanás ( Cl 2.13 a 15, e 1.13); através dela recebemos perdão e salvação - uma nova vida.
Não obstante estas verdades, não haverá significado nelas, não aproveitaremos plenamente da liberdade, se não refletirmos sobre a seguinte questão: Sendo a liberdade tão substancial, como podemos usufruir da liberdade e fazer dela uma grande bênção para nós e para os outros?
Pois a liberdade não é apenas um instrumento condicional ou posicional, que nos garante uma nova posição diante de Deus, mas é também um elemento relacional.
Pois esta é a síntese do valor e propósito de Deus a nos conceder a liberdade, é ser uma benção, é ter relacionamentos abençoadores com Deus e com o próximo, nos submetendo a Palavra.
A liberdade é uma concessão graciosa de Deus para uma vida de bênção.
Benção que se reflete em santidade, justiça e amor. Ações que só tem significado a partir do outro. A partir do resultado que nossas vidas produziram em nosso relacionamento com Deus e o próximo. Por isso o texto que lemos fala em serviço e amor. Fazendo com que a liberdade seja caracterizada pelo desprendimento, voluntariedade e dedicação. E que seja produtora de atos de santidade e retidão. Atos que exigem amor, livre, deliberado e espontâneo. O que apontaria para nossa vida semelhante a Deus.
E aqui cabe-nos uma observação: não basta atentar para a lei ou religiosidade, pois estas também podem escravizar. Uma vida semelhante a de Cristo, isto é, uma vida verdadeiramente Cristã, não se pode efetivar apenas pela ações ou pela simplória visão de um vida de “ler a Bíblia e orar”, estas ações devem necessariamente estar associadas a um experiência com o Espírito. Pois só um relação mística, sobrenatural e intensa com Deus pode nos levar a produzir os frutos do Espírito, e conseqüentemente, nos levar a vencer a carne; a vivermos uma vida agradável. Agradável porque voluntária, de espontânea obediência a Deus. De benção pelo trato adequado com as pessoas. Tudo por amor livre, voluntário a Deus e o próximo. O que torna elemento essencial da liberdade o amor - voluntário e submisso. Só por amor, por compreender o quanto Deus me amou, o quanto as pessoas são valiosas para Deus e para minha vida, é que sou capaz de me submeter a santidade e justiça, e abençoar minha vida, meu relacionamento com Deus e com as pessoas.

Só livremente amando é que estou apto a viver como Cristão.
Por isso como declarou William Carrey “ a liberdade não é opcional, é essencial ao Cristianismo”, pois ela só é adequadamente usada e operosa quando expressa atos de e por amor. Sem amar não vivemos a liberdade. Longe da liberdade vivemos distante da santidade e da justiça, produzidas pelo amor.
Como então respondermos de modo prático a questão de nossa reflexão: como podemos usufruir da liberdade e fazer dela uma grande bênção para nós e para os outros? Como vivermos a síntese do valor e propósito da liberdade concedida por Deus?
Como podemos ser uma benção, ter relacionamentos abençoadores com Deus e com o próximo? Como livremente expressar santidade e justiça?
Amando. Conscientes, a partir do exemplo de Cristo, a sua semelhança, com amor, que requer sacrifício e exige submissão. Pois não podemos amar sem entrega, não podemos servir sem nos submeter. E não há amor ou serviço agradável a Deus se não for espontânea, livre e voluntária.
Eis o porquê da Palavra de Deus ao expressar a doutrina bíblica, tantas vezes, fala de amor. E amor expresso em atos de tolerância, submissão, sacrifício e dedicação. Como, por exemplo, em Rm 12.9 a 21. Eis o porquê da Palavra de Deus ao falar da graça fala em boas obras, como em Tito 3.1 a 8. Eis a razão da Bíblia ao falar da doutrina da liberdade falar em santidade, justiça e amor que redundam em louvor a Deus - como vimos em Gálatas 5, e podemos ver em Colossenses 1.13 a 22 e 3.5 a 23.
Gostaria de ilustrar esta postura através da reflexão do seguinte caso:
p.11 no livreto

- Mamãe estou com sede. Quero água!
Susanna Petroysan ouviu o pedido de sua filha, mas não podia fazer nada. Ela e sua filha de quatro anos, Gayaney, estavam debaixo de escombros. Ao seu lado estava o corpo de sua nora, Karine, uma das 55 mil vítimas do pior terremoto da Armênia.
Susanna tinha ido a casa de Karine provar um vestido. Eram 11:30 da manhã de 7 de dezembro de 1988 (o tremor ocorreu as 11:41). Susanna deu alguns passos, pegou sua filha, e o piso se abriu. Susanna, Gayaney e Karine caíram no subsolo do prédio de nove andares. Sua nora morreu na queda.
Por causa da escuridão Susanna tinha perdido a noção do tempo. E apesar do pedido de sua filha, não havia o que fazer. Susanna estava presa. Uma viga de concreto a prendia, e um cano de água passava sobre seu ombros impedindo que ela levantasse...
- Mamãe estou com muita sede. Por favor me dê alguma coisa para beber!
Tateando com os dedos dormentes de frio, Susanna encontrou um pedaço de vidro quebrado. Abriu com o ele o dedo polegar da mão esquerda e o deu para sua filha chupar... Por favor mamãe um pouco mais, pedia a menina. Susanna não se lembra de quantos cortes teve que dar. Mas seu sangue foi o único meio para sobreviveram ali por oito dias.
Susanna podia ter desistido, mas ela resolveu se desprender, se sacrificar por amor, para abençoar a si e a sua filha. Ela escolheu usar a vida que Deus tinha lhe concedido para abençoar e ser abençoada.
p.12
E é disso que estamos falando todo esse tempo, de uma vida de liberdade concedida para nossa benção e dos que vivem junto de nós. Vida que resolvemos livremente submeter e sacrificar, por amor, para saciar a sede, a carência, os medos, as dificuldades, as necessidades daqueles que Deus coloca diante de nós.
A vida do outro requer meu sacrifico, minha dedicação, meu desprendimento, mas isto só acontecerá quando eu livremente resolver amá-lo. Isto só ocorrerá quando eu espontaneamente decidir que vale a pena ouvir e obedecer a Deus, para viver a sua semelhança. A semelhança de alguém que deliberadamente optou por me aceitar, amar e abençoar, apesar de tudo.
E ao nos reunirmos para adorar a Deus; ao nos intitularmos ou sermos conhecidos como Cristãos não há outra saída. Por que a postura de Cristo para com os discípulos, até mesmo Judas que o traiu, foi sentar a mesa e comer a páscoa, e espontaneamente lavar os pés, para nós recomendar: “Vós me chamais mestre, e dizei bem porque eu sou; por isso, assim como eu vos servir, vos deveis servir uns aos outros”, pois nisto saberei que são meu discípulos, quando vos amardes uns aos outros.
Não há alternativa, ou amamos livremente e vivemos em santidade e justiça, ou não poderemos nos identificar como Cristãos. Ou nos doamos livremente ou não viveremos como e para nosso Senhor.
Mas sabe o que acho fantástico, é que a graça de Deus que liberta é plena. Assim, ainda que falhemos; ainda que haja pessoas, ou nós mesmos estejamos, cheios de sede, Ele diz “se alguém tem sede venha a mim e beba”. Ainda que estejamos escravizados ele diz, “se o filho vos libertar verdadeiramente sereis livres”.
O que vamos escolher a secura de uma vida sem Cristo. O peso de uma vida sem liberdade. Ou diremos sim Senhor, dá-me de beber. Liberte-me para possa livremente amar.
Em 1986, com 21 anos me encontrei numa circunstância bastante difícil, estava na Serra da Mantiqueira – num local conhecido como pico do Gavião, num exercício militar de 09 dias. Por volta do quinto dia sem dormir, nos deslocávamos num grupo de patrulha, alguns dormiam andando, outros algumas vezes deliravam. A noite, andando na mata numa temperatura, creio, de 1oc, debaixo de um geada que caía há três dias, Antônio, que tinha vindo do Pará, após a travessia de um rio, repentinamente caiu, tremia sem parar, rangendo os dentes e com os lábios completamente roxos, estava com hipodermia.
Estava lá em treinamento, acreditava na necessidade de enfrentar aquelas condições, mas só muito tempo depois compreendi o verdadeiro propósito de tudo aquilo. Se não enfrentássemos aquelas condições inóspitas e não superássemos nossas limitações e medos não estaríamos prontos para ser empregados adequadamente, pois em regra, nosso maior obstáculo está em nós mesmos. Hoje sei que na verdade por mais que treinemos a realidade é sempre mais difícil.
Penso que em relação a liberdade cristã também é assim. Acreditamos em sua essencialidade e necessidade. Enfrentamos os obstáculos para vive-la ou obtê-la. No entanto, nem sempre compreendemos a amplitude de seu propósito. O que não nos permite, portanto, exercê-la plena e adequadamente.
p.14

- “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão... porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião a carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque a lei se cumpre em um só preceito: ... Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”(Gl 5.1 e 13,14);
- Amados, exorto-vos, como peregrinos que sois... a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, ... observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus... Sujeitai-vos a toda instituição humana, por causa do Senhor... Porque assim, é a vontade de Deus, que, pela prática do bem,... como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus”. ( 1 Pe 2.11 a 17).
- “Cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça, que vos esta sendo trazida como filhos da obediência, não vos amoldeis nas paixões que tínheis anteriormente... pelo contrário segundo é santo o que vos chamou, tornai-vos santos também, ... em todo o vosso procedimento...” (1 Pe 1. 13 a 16). Pois

Portanto se podemos resumir o propósito da liberdade, a partir destes versos, COMO USUFRUÍ-LA E FAZER DELA UMA GRANDE BÊNÇÃO PARA NÓS E PARA OS OUTROS?
É o que veremos na próxima reflexão.
Pr Alex