PAIS

Pais

Na Bíblia, como na vida real, encontramos vários tipos de pais. Alguns nos deixam enternecidos, outros, enfurecidos. Há os que são amorosos, responsáveis, honestos, íntegros, dignos… E há os cruéis, inconsequentes, desprezíveis…
Por ocasião do Dia dos Pais, dediquemo-nos a refletir sobre alguns exemplos, escolhidos de entre as páginas sagradas, procurando aprender que aspectos da paternidade podemos cultivar, e de quais devemos nos precaver.
Felizmente, a Bíblia nos apresenta um Pai, este, sim, perfeitíssimo. Quem melhor no-lo apresenta é Jesus, na oração que até hoje chamamos de “Pai Nosso”.
A oração começa com a expressão “Pai nosso que estás nos céus”. O fato de Jesus se dirigir a Deus como Pai já é de certa forma bastante revolucionária — ao menos pela ousadia em empregar esse termo de intimidade para um Deus que amiúde provocava temor e assombro.
Chamar Deus de Pai, mesmo em nossos dias, é temerário, porque pode ser que nos venha à mente a imagem do nosso pai terreno, com as suas falhas, com os seus defeitos, com suas limitações. Talvez por essa razão Jesus agregue outras duas informações complementares a essa designação: esse Pai é nosso, e está nos céus. É um pai pleno de ternura. Trata-se de um pai diferente dos demais: muito parecido com o da parábola do Filho Pródigo, que é, a rigor, mais mãe do que pai.
E esse pai é nosso. Tanto Karl Barth quanto João Wesley afirmam que o pronome, nosso, é determinante: que essa oração só pode ser pronunciada se nela houver um Pai e se houver um Nosso. O nosso aparece muitas vezes na Oração do Senhor — Wesley tem a paciência de contar, e nos informa que o referencial “nós” ou “nos” aparece sete vezes em apenas três versículos. A oração é, portanto, enfaticamente comunitária. Uma oração que pensa a coletividade. O Pai não é só meu, mas é nosso. Portanto, não chego diante de Deus somente com os meus próprios sentimentos, somente com a minha fé individual e privada, mas oro conjuntamente com toda a comunidade de fé. Segundo Karl Barth, toda humanidade está presente na Oração do Pai Nosso. Ainda que os ateus (órfãos?), ou que se dizem ateus, suponham viver sem Deus, na concepção cristã não é possível haver um Deus sem o ser humano. Por¬tanto, até mesmo aqueles que não creem, aqueles que não têm Deus, estão representados na Oração do Pai Nosso.
O Dia dos Pais, como dito no início desta reflexão, é ocasião privilegiada para refletirmos sobre a paternidade segundo o ideal de Deus.
Nós, pais, podemos, ainda hoje, ser pais de fé, e gerar filhos-sorriso; podemos ser pais pacíficos e pacificadores, que dançam e brincam com suas filhas, em lugar de perdermos tempo com guerras insanas e brigas tolas; podemos ser pais segundo o coração de Deus, amadurecendo sempre, não obstante os revezes da vida; podemos ser pais que, em plena cumplicidade com a mulher que amamos, adotem até as crianças geradas nas condições mais suspeitas e inusitadas; podemos ser maternos pais amorosos, prontos a receber de volta o filho perdido, prontos a aconselhar e a consolar o filho abatido; podemos ser pais da verdade, gerando filhos e filhas que amam a verdade, que praticam a verdade, que promovem a verdade…
Enfim, podemos almejar o ideal do Pai perfeitíssimo, aquEle que compensa toda a limitação dos pais terrenos, aquEle que está nos céus, que é Pai de todos, e que é também o Pai dos pais.
SEMANA QUE VEM CONTINUAREMOS A TRATAR SOBRE OUTROS PAIS QUE ESTÃO NA BÍBLIA...

Oremos:
Senhor,
rendemos-te graças pela vida dos nossos pais,
porque nos possibilitaram nascer para a vida na terra;
rendemos-te graças também pela vida dos nossos pais na fé
porque nos possibilitaram nascer para a vida eterna.
Neste Dia dos Pais,
abençoa aos que estão próximos
dá forças aos que estão distantes,
e conforta aquele cujo pai está ausente.
Abençoa igualmente a nós, filhos e filhas, para
que nossos gestos honrem a sua memória,
que nossos passos sigam-lhe o exemplo,
que nossas palavras transmitam a sua sabedoria.
E se porventura esse amor paterno nos faltar,
dá-nos a consciência de que temos um Pai celestial,
que nos ama, que nos ajuda, que nos compreende.
E tu, que és Pai onipotente, onipresente e onisciente,
compenses as limitações dos pais terrenos e complete o seu amor.
Bendito sejas, Pai bondoso, Pai dos pobres, Pai de todos, Pai nosso que estás nos céus…

Luiz Carlos Ramos
(Escrito especialmente para a Revista Gaivota : Dia dos Pais, 2011)