ESFORÇOS DA VIDA CRISTÃ
Alex R. Carneiro Texto: Filipenses 3.12 e Tg 1. 1 a 17 - 16 Out 2011
O CRESCIMENTO DIANTE DAS ASFLIÇÔES
Parte 2
Uma historia real (com nomes fictícios) de Luíza e Lourenço.
Roberto nasceu bonito e chorão. Era a carinha de Betty, sua irmã mais velha. Uma bênção para Luiza e Lourenço, que tinham enfrentado a cerca de um ano e meio atrás o fantasma de uma separação. Como foi bom ver aquela família tomando o rumo de novo.
Dois meses depois a mãe de Luiza me liga e pede para eu ir ao hospital, o pequenino Roberto estava internado.
Ao chegar encontrei o pequenino pálido e balbuciando um fraco gemido. Luíza segurava numa mão e Lourenço em outra mão do menino. Nunca vou esquecer aquela cena e seus olhares, a voz fraca de Luiza pedindo:
- Pastor o senhor pode batizá-lo; pois refletiam o inevitável.
Batizei pela primeira vez uma criança na UTI de um hospital.
No dia seguinte corri ao hospital. O esperado aconteceu. Encontrei Luiza junto a um irmão que batia em seu ombro e dizia: seja forte filha! Ela me olhou, e me lembrei de minha irmã que havia a alguns anos perdido sua filhinha e como sofremos. Como senti meu coração ser esmagado como se uma mão o estivesse apertando intensamente. Sobre meu peito parecia que havia uma tonelada.
Pus meu braço sobre seus ombros e a perguntei: tá doendo filha? Ela respondeu “aí pastor, dói muito; dói muito!”
Ao que respondi: então chore filha. Chore.
Fiquei firme até que entrei em meu carro, quando então desabei; e clamei: Senhor como dói!
Este é o mundo real. Esta é a nossa vida, cheia de alegrias, mas também cheia de aflições. Com certeza você mesmo tem sua história. (casamento falido; solidão; abandono da família; filho perdido; uma doença inesperada, um dor incurável, dívidas, desemprego, humilhações etc.)
Pela intensidade e força das aflições quero deixar claro que esta reflexão não é solução para o fim de suas lutas. Mas espero que seja um refrigério no calor da batalha. Um apoio emocional e espiritual para tirar do fundo de você o resto de força que tem. Bem como, que possa levá-lo mais próximo e sensível a providência e a consolação divina.
Mas será que podemos crescer diante de momentos difíceis. Há crescimento nas aflições.
A vida de Paulo, de Jó, e de tantos outros homens que foram testemunhas de Deus, homens cujo mundo não é digno, nos mostram que sim a questão é como?
Uma vez que aflição é algo indesejado que nos atinge e nos gera angustia, ansiedade imensa, sofrimento, sensação de sufocamento entre outras reações.
Paulo no texto de Filpenses como fala da perseverança de prosseguir para o alvo, deixando as coisas para trás fala isso com conhecimento de causa. Seu chamado foi para sofrer em nome do evangelho e causou uma mudança total em sua foram de ver e pensar. Seu ministério sofreu tal impacto que ele mesmo nos declara em 2 Co 1 que foram tantas as tribulações que “desesperou da própria vida”.
Essa sensação de dor e angustia é demonstrada também pro Jó 19. 7 a 20. Logo, ninguém pode negar que as aflições são muito difíceis de passar.
Não ignoramos isso, o que desejo é que reflitamos acercar dos aspectos positivos e bíblicos da tribulação. Jó mesmo nos mostra essa possibilidade – primeiro por sua esperança e fé (Jó 19.25 a 27) depois de modo consciente por sua experiência com Deus (Jó 42.1ª 6).
(PARTE 2 NO VERSO DA FOLHA IMPRESA com base em Jó)
Por isso, com base em Tiago propusemos três aspectos que podem nos levar ao crescimento:
1º) Entendendo que as aflições fortalecem a nossa fé
Elas fazem parte de um processo que “produz resultados para nossa confiança em Deus”. Pois a fé “uma vez provada ... produz perseverança ” e esta “deve ter ação completa”.
2º) Entendendo que elas nos amadurecem
Nos conduzem a ser “perfeitos”, isto é, maturidade na vida cristã.
3º) Entendendo que elas lapidam o caráter – a integridade de Tg 1.4 se refere a um caráter correto, aperfeiçoado.
Precisamos entender que Crescer aqui é ter disposição para sermos conduzidos a caminhos ou circunstâncias que não escolheríamos mas que são necessários passar. Afinal as aflições são inevitáveis e por vezes mais freqüentes e intensas que as alegrias.
Por isso além de refletirmos sobre os aspectos de nosso crescimento, precisamos também pensar em:
como sobreviver ao processo de crescimento diante da aflições?
Pois as aflições podem nos fazer crescer, porém não são fáceis de se transpor, principalmente se por longo tempo ou se são de grande intensidade.
Logo é preciso no mínimo tentarmos sobreviver a elas. Mesmo porque, o crescimento e amadurecimento não são imediatos, e em regra não são notados no meio do furacão das aflições.
Creio que o texto de Tiago nos propõe o seguinte para sobreviver:
1º) Não brigue com Deus.
Tendo consciência que a prova da nossa fé, neste caso não ocorre porque Deus quer nos testar, mas sim porque, como pai, ele quer nos fortalecer.
Hb 12 declara que as aflições ou disciplinas no momento não trazem alegria mas depois produzem seu fruto. Bem como nos traz como exemplo o próprio Jesus. Recomendando que nesta luta olhemos para o autor e consumador da nossa.
Deus não está contra nós, mas Ele é por nós, e estará conosco até a consumação dos séculos. Ele é o nosso refúgio e fortaleza. É nosso Pai. E não nosso inimigo. Um pai as vezes deixa o filho passar algumas dificuldades para que ele, filho, cresça.
Como declara o v.13 Ele a ninguém tenta (tentar e provar são coisas diferentes – estas servem para nosso crescimento, aquelas para nossa queda).
Se brigarmos ou ficarmos de mal com Ele, seremos infantis e perderemos nosso maior e mais poderoso aliado.
Além disso teremos menor tendência a negar o sofrimento quando aprendermos que Deus os usa para moldar-nos e nos atrair para perto Dele. Precisamos deixar de ver as dores como interrupções para nossos planos ou sonhos e vermos as lutas como instrumentos de Deus para fazer pronto a sentir sua providência e amor por mim.
Não brigue com Deus, deixe Jesus, que já sofreu na cruz por você, viver junto com você suas dores e aflições.
2º) Peça auxílio a Deus.
O v.5 fala em “pedir sabedoria”. A oração nos põe em contato com Deus e declara nossa dependência.
O v.16 fala em “dádiva”. Rm 8.26 declara que o ES nos auxilia na nossa fraqueza. Jesus orou por nós em João 17. O Salmo 46 diz que Deus é o nosso “socorro bem presente”. Portanto ponha suas lutas, dúvidas, medos, em fim tudo que as aflições nos traz, diante de Deus, com fé, sem nada duvidar v.6.
Filip Yassen fala deste auxílio divino em seu livro “Deus sabe que sofremos”. E Henry Nouwen também declarando que “Ao convidarmos Deus para participar de nossas dificuldades, fundamentamos nossa vida – até mesmo seus momentos tristes- em alegria e esperança. Ao parar de querer apossar-nos da vida, receberemos mais até do que conseguimos agarrar por nós mesmos. E aprenderemos o caminho para um amor mais profundo pelos outros”.
Lembram da história de Luiza e Lourenço; a dor da perda de minha sobrinha me ajudou a entendê-los, a compartilhar com eles e a chorar com eles. Podendo, talvez, consolá-los por um pouco. E mostrá-los que o funeral do pequenino Roberto pode fazer com que muitos ouvissem o evangelho.
Creio assim que dividir com amigos é uma boa opção. Bem como nos amigos e irmãos devemos compartilhar os sofrimentos. É a recomendação da Palavra de Deus em Tiago 5. A Bíblia determina que carreguemos as cargas uns dos outros.
Precisamos aprender abandonar a autocomiseração e nos dedicar a viver com compaixão. A entrar nos momentos sombrios dos outros, sem recuar. A compaixão nos ensina a abraçar e a dar explicações simples ou afirmações esdruxulas quando ocorre uma tragédia na vida de alguém que conhecemos ou amamos, ou na nossa própria. A autocomiseração nos faz vítimas abatidas e sem esperanças, coitadinhos que sofrem por amor, e não que podem amar porque sofrem.
Como sobreviver ao processo de crescimento diante da aflições?
3º) Tendo clara visão de nossa condição.
Somos frágeis. E Tiago fala sobre isso quanto ao orgulho no v.9 e 10. E quanto nossa natureza adâmica, nossa fraqueza carnal nos versos 14 e 15.
1 Pedro 5.6 a 8 nós exorta a isto. Sua carta fala de tribulação e glória para a Igreja, no mesmo momento de perseguição de que fala Tiago. E neste caso sua observação é “humilhai-vos”; lance sobre Deus; sede sóbrios e vigilantes. O diabo .. anda em derredor.
Não podemos dar visão ao pior de nós nos momentos difíceis se não sucumbiremos na fé. Nosso olhos devem estar fitados em Cristo.
O livro de hebreus buscando nos incentivar a uma vida de fé nos determina a olhar para o autor e consumador da nossa fé.
Como sobreviver ? Sendo amigos de Deus; sendo ajudados por Deus; estando focados Nele é o modo melhor de passar pelo furacão.
Pois a dor sofrida quando estamos só é muito diferente de que ao lado de alguém. Mesmo quando a dor persiste, sabemos como é diferente quando alguém se aproxima, quando alguém partilha conosco. Essa espécie de conforto mostra-se mais completa e poderosamente visível na encarnação, em que Deus veio ao nosso meio- em nossa vida- para lembrar-nos: “Estou com você em todo o tempo, em todos os lugares”. Em Cristo, deus aproximou-se de nós diante dos nossos sofrimentos: a dor das crianças e adolescentes, os ferimentos dos jovens, adultos e dos idosos, as aflições dos desempregados e daqueles que, repentinamente, ficaram solteiros. Não há sofrimento humano que não faça, de algum modo, parte da experiência de Deus. Esse é o grande e maravilhoso mistério de Deus tornando-se carne para viver entre nós. Deus torna-se parte do nosso pranto e convida-nos a aprender a dançar, não sós, mas com outros, compartilhando da própria compaixão de Deus, tanto dando como recebendo”. Bênçãos para crescermos nas aflições.
ILUSTRAÇÃO:
Conta-se que nas planícies do oeste do EUA, vivia um mineiro doente. Muito cedo passara pelo desgosto de perder a esposa e a primeira filha. Tornou-se um revoltado. Enquanto estava doente, uma senhora crente, administrava-lhe cuidados de enfermeira e orava por ele e testemunhava de Cristo através de seu modo amável de ser. Uma noite a filha desta senhora lhe disse:
- Mamãe, tu não oraste por aquele homem hoje, já desanimou?
- Creio que sim, respondeu a mãe.
- E Deus já desanimou?
- Creio que não disse a mãe.
- Então não é justo que desanimemos. E oraram.
A enfermeira continuou seu testemunho e cuidado.
Um dia sua filha foi com ela ao hospital, e começou a conversar com o homem, e disse:
- O senhor já teve uma filhinha. Deus a levou para o céu, mas o senhor vai se encontrar com ela lá.
- Não, não creio, pois sou um homem mau, e estou sofrendo por isso.
- Mas Jesus veio a este mundo e está no céu para fazê-lo um homem bom e aliviar suas dores.
Então, por meio do testemunho, da oração e da proclamação das boas novas do evangelho, por aquela criança e sua mãe o Espírito atuou no coração daquele homem e ele se converteu.
O sofrimento exige de nós perseverança e esperança, e por isso pode fazer com que cresçamos tanto espiritualmente como emocionalmente, conhecendo melhor Jesus nosso salvador e nosso Deus providente.
CONCLUSÃO
Crescer é bom. Porém crescer em meio a aflições e dores não é fácil. Creio que por isso a expressão “perseverança” e “necessidade de sabedoria” são usadas na Bíblia (Tg 1. 4 e 5).
Se pensarmos bem, veremos que manter os propósitos (perseverar) e receber sabedoria já são grandes bênçãos diante de momentos de dificuldade, veremos que já crescemos .
A perseverança e sabedoria são benéficas porque nas lutas é necessário cuidados, haja vista que envolvem aspectos externos e internos. Há tribulações externas, das quais não temos controle. E há, também, tribulações internas ou tentações que podem nos afetar. São elas que nos permitem vencer tais circunstâncias. Daí a perseverança e sabedoria.
Nossa sugestão ou proposta é: persevere (2 co 4.16 a 18). Mantenha-se firmes. Nosso exemplo de perseverança é firmeza é Jesus ( Hb 12. 1a3).
Seja confiante, pois Cristo foi sincero conosco ao dizer “no mundo tereis aflições”. E seja esperançoso pois a este idéia ele completou: “mas tendes bom ânimo, eu venci o mundo” ( Jo 16.33).
As vezes nossas lutas servem para que outros sejam alcançados ou consolados como declarou Paulo em 2 Co 1.
Não temos ignorado o fato de que sofrer não é bom. Se olharmos para o Éden antes da queda e para as promessas do céu veremos que Deus não quer que soframos.
Sofremos como efeito da queda e ainda não estamos no céu, logo o sofrimento fará parte da nossa vida na terra. Num momento ou no outro, com mais ou menos intensidade. Por isso a Bíblia nos propõe que peçamos a Deus sabedoria para que cresçamos e sobrevivamos nas tribulações.
E não esqueçamos Cristo está conosco até a consumação dos séculos. E ele nos convida :
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o seu jugo e aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque mau jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mt 11.28).
Entregue suas lutas e suas vidas a Ele.