PAIS - Parte 2

Pais

Na Bíblia, como na vida real, encontramos vários tipos de pais. Alguns nos deixam enternecidos, outros, enfurecidos. Há os que são amorosos, responsáveis, honestos, íntegros, dignos… E há os cruéis, inconsequentes, desprezíveis…
Por ocasião do Dia dos Pais, dediquemo-nos a refletir sobre alguns exemplos, escolhidos de entre as páginas sagradas, procurando aprender que aspectos da paternidade podemos cultivar, e de quais devemos nos precaver.
Provavelmente, um dos primeiros exemplos que nos vem à mente, é aquele que ficou conhecido como o pai da fé, Abrão ou Abraão. Pai que deveria ser bênção para todas as famílias da terra, não sabia muito bem como sê-lo na sua própria casa. Tentou, a princípio, dar uma mãozinha para a fé, pegar um atalho. Tratou de começar sua descendência tendo um filho com a escrava Hagar. Este se chamou Ismael (Deus ouviu), e após uma intriga envolvendo ciúme, revanche e vingança, Abraão acabou por abandoná-lo para morrer no deserto. Que angústias não sofreu esse senhor? Que dores piores que as de parto não terá sentido até que aprendesse a lançar-se, com fé, nas promessas de Deus, e gerar um filho que receberia o nome de Sorriso (Isaque)! É de fato admirável que esse beduíno da terra de Ur tenha sido condecorado pela posteridade com o título de Pai da Fé…
Sem sombra de dúvida, o pai mais tolo e estúpido de todas as Escrituras é um tal de Jefté. Esse se meteu numas brigas (por aí só já dá pra ter noção da figura). No meio de uma luta, fez um acordo patético com Javé: “Se, com efeito, me entregares os filhos de Amom nas minhas mãos, quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do SENHOR, e eu o oferecerei em holocausto” (Jz 11.30 – 31). O dito cujo conseguiu vencer os tais amonitas. Dá pra adivinhar o que aconteceu? “Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro, com adufes e com danças; e era ela filha única; não tinha ele outro filho nem filha” (v. 34). Desgraça completa… filha única sacrificada. Sem¬pre me perguntei: Por que a Bíblia preservou tamanho disparate… e concluo que o fez pra que nunca, jamais, pai algum torne a cometer tamanha insensatez.
Outro importante pai da Bíblia ficou conhecido como sendo o homem segundo o coração de Deus (cf. At 13.22). Davi, esse era o seu nome, gerou um filho fruto de adultério seguido de assassinato do marido da amante. Quis o destino que essa criança adoecesse irremediavelmente ainda pequenina. O amor do pai Davi pelo filho, não obstante, era tamanho, que ele chorou, jejuou, e se penitenciou dolorida e desconsoladamente. Uma vez informado da morte do filho, Davi nunca mais seria o mesmo.
Nos evangelhos, um pai especial é o de Jesus. José não era pai de Jesus em sentido estrito. Sua noiva engravidara, antes do casamento (e não foi do noivo). Muitos, no seu caso, teriam abandonado mulher e filho. José, no entanto, preferiu enfrentar as más línguas e os preconceitos sociais. Casou-se com Maria, adotou o menino, ensinou-lhe sua profissão. Jesus, o nosso Senhor e Salvador, teve a graça de ter um pai adotivo que o acolheu, o educou e amou.
Além de pais reais, de carne e osso, há também figuras paternas imaginárias que se imortalizaram no Novo Testamento. Nenhum deles se compara ao pai do filho pródigo. Livros e livros escreveram sobre ele. Amoroso, gracioso, tolerante, amigo, acolhedor e perdoador, sempre de olho na estrada, esperando a volta do filho perdido; sempre disposto a deixar a festa de lado para consolar e aconselhar o outro irmão tão rancoroso. Dizem que esse é o pai mais parecido com mãe de toda a literatura universal.
Há também um pai tétrico, funesto, lutífero, astroso, assombroso, aterrador, sinistro… Este ficou conhecido como o Pai da Mentira. E ao que se pode ver, ele tem muitos filhos esparramados pela face da aterra. Está lá no evangelho de João (8.44): “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” Todo aquele, toda aquela, em quem não há verdade, torna-se filho do diabo, o mais cruel dos pais.
Felizmente, a Bíblia nos apresenta outro Pai, este, sim, perfeitíssimo. Quem melhor no-lo apresenta é Jesus, na oração que até hoje chamamos de “Pai Nosso”.
Enfim, podemos almejar o ideal do Pai perfeitíssimo, aquEle que compensa toda a limitação dos pais terrenos, aquEle que está nos céus, que é Pai de todos, e que é também o Pai dos pais.
Deus os abençoe!