AS QUATRO ESTAÇÕES DO CASAMENTO - Parte 4

Inverno estação das crises - continuação e conclusão
1.2.3 – A amargura. Um outro sinal do inverno no casamento é a amargura. O dicionário define amargura como “um sabor amargo” ou “um sentimento de tristeza”. A amargura é um sentimento que azeda as relações, tira o sabor da convivência e joga todos os tipos de relacionamentos, pais-filhos, amigos, parentes, mas principalmente o casamento, num estado permanente de tristeza. A pessoa amargurada é cheia de mágoas e ressentimentos, fica facilmente irritada e nas suas relações íntimas dá sempre a impressão de estar descontente, aborrecida, insatisfeita. Seu coração está sufocado por lembranças ruins guardadas, que, em qualquer momento, ela despeja para fora com queixas, reclamações e acusações que não cessam nunca. Salomão associa este sentimento a figuras muito ilustrativas do estado emocional da pessoa amargurada: “Dai bebida forte aos que perecem e vinho aos amargurados de espírito; para que bebam e se esqueçam de sua pobreza, e de suas fadigas não se lembrem mais.” (Pv. 31:6-7); fadigas, pobreza e morte. Quem está cansado de lutar, quem sente que seu casamento está muito longe de ser rico, e quem acha que seu relacionamento está sempre à beira do fim, precisa urgentemente pensar com muito cuidado se o veneno da amargura não azedou você. Isto é muito sério... Em minha opinião, não há pessoa mais triste do que a pessoa amargurada.
É por isso que a Bíblia nos exorta tão categoricamente a fim de que o cristão tome muito cuidado com a amargura: “longe de vós toda a amargura” (Ef. 4:31), ou seja, fique longe, e quanto mais longe melhor! A amargura não é uma coisa da qual a alma pode se aproximar sem contaminar-se, por isso, mantenha distância. Em Hebreus 12: 15 aprendemos “atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados”.
A amargura é uma pequena raiz, mas, se não arrancada, brota, torna-se uma grande árvore e seu fruto é a desgraça dos relacionamentos. Observe: “ninguém seja faltoso separando-se da graça”, na amargura cometemos uma grave falta que nos separa da graça, daí um casamento sem graça, sem sorriso, sem alegria; “raiz”, os problemas com a amargura começam pequenos, mas tendem a crescer se você não arrancá-la; “que brotando vos perturbe”, a amargura é uma perturbação permanente do coração, é um gotejar ácido de lembranças traumáticas, inconscientemente a pessoa amargurada está sempre à procura de perturbar, incomodar alguém, porque, lá no fundo, ela é que se sente perturbada com as lembranças do passado, neste verso aprendemos que os que vivem a perturbar os outros, os malas, os rixosos, os beligerantes, os que não deixam passar nada no casamento, pegam e não largam do pé do cônjuge ou dos filhos, estão sempre dispostos a uma briguinha, são pessoas muitos infelizes que vivem perturbadas consigo mesmas; “e por meio dela muitos sejam contaminados”, ou seja, a amargura é uma doença da alma que contagia, primeiro o cônjuge, depois os filhos, depois os cônjuges dos filhos, os netos, etc., é uma verdadeira maldição de família que se torna parte da cultura familiar, passa de pai para filho e estende a sua influência, e assim vai contaminado o jeito como as pessoas se relacionam.
Lembro-me de uma pessoa que conheci que era o protótipo do amargurado. Um amigo que era presbítero na minha ex-igreja. Ele era inteligentíssimo, excelente professor de Escola Dominical e muito eficiente na execução de qualquer tarefa que lhe fosse confiada. Todavia, ele tinha um comportamento sempre crítico, uma postura agressiva, para ele nada estava bom. Por menor que fosse o problema, a amargura deu a ele um dom: o dom de fazer um problema pequeno ficar grande, o dom de azedar as coisas... Comecei a aproximar-me dele pastoralmente, de maneira bastante objetiva, a fim de, no aconselhamento, ajudá-lo com seus problemas que revelavam, sobretudo, uma grande dose de sofrimento emocional.
Logo consegui entender e também convencê-lo de que seu problema era a amargura, que, infelizmente, naquele momento, já havia tomado conta de seu casamento. Quando saíamos para conversar ele sempre me levava a bons restaurantes. Mas, mesmo nos restaurantes e churrascarias mais chiques de São Paulo, desfrutando dos melhores pratos, e ainda, com ele pagando a conta, tudo ficava ruim, tudo ficava azedo. Era tanta amargura que as conversas traziam que estragava até a comida... Bem, encurtando a história, a raiz havia crescido e se transformado numa árvore, o contagio do seu coração passou para seus relacionamentos. Em poucos anos ele saiu da igreja, separou-se da esposa e de todos os amigos daquela época ele só ficou com um, que eu, honestamente, não sei se foi ele que ficou com esse amigo ou se foi esse amigo que ficou com ele...
Maridos, por favor, prestem atenção: “... não se ponha o Sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo.” (Ef. 4:26-27), ou, em outras palavras, apaziguem a ira que vocês sentirem no casamento antes de dormir, procurem resolver, se possível, tudo no mesmo dia; os homens devem parar com esta mania de deixar as coisas para depois. As esposas aqui sabem do que estou falando: é a lâmpada que precisa ser trocada, a maçaneta que precisa ser consertada, é aquilo que a esposa está pedindo a um tempão e você está sempre deixando para depois, e até mesmo as conversas necessárias... Os homens, filhos do silêncio de Adão, tendem a evitar a confrontação saudável acreditando, ingenuamente, que com o tempo tudo se resolve. Amanha, com o copo cheio, esta ira poderá transformar-se em amargura. Esposas, por favor, prestem atenção: “Melhor viver no deserto do que com uma mulher briguenta e amargurada” (Pv. 21:19), cuidado com a mania por briguinhas, essa mania de pegar no pé do marido por coisas secundárias pode transformar-se em amargura. É claro que o exemplo que acabei de citar acima, do rapaz de São Paulo, é um exemplo extremo. Todavia, lembrem-se que a amargura começa com uma pequena raiz para depois crescer e transformar-se numa árvore. Uma raiz é muito mais fácil de arrancar do que uma árvore...
Encerrando esta parte sobre os sinais do inverno no casamento (comunicação bloqueada, sentimentos de rejeição e amargura), gostaria de tocar num ponto que serve de avaliação para você pensar, seriamente, se as baixas temperaturas do inverno não estão prestes a matar seu casamento. Lembre-se que o frio mata, ninguém consegue sobreviver sob baixas temperaturas por muito tempo, a não ser que procure criar condições para voltar a aquecer seu relacionamento. Por favor, preste atenção! Se você , já a algum tempo, acredita que a única solução para seu relacionamento é o divórcio, se você é perseguido por pensamentos obsessivos de que seu casamento foi um grande erro, se a idéia de uma infidelidade sexual de vez em quando bate à porta de suas fantasias, ou ainda, se “de modo cristão”, você não aceita o divórcio mas pensa como seria uma boa solução, de Deus, a morte do seu cônjuge, então, o inverno está prestes a matar seu casamento. Que bom que você está aqui; Deus quer falar com você sobre as atitudes para tirar seu casamento do inverno.
1.3 – O lado positivo do inverno
Há um provérbio que diz “não podemos controlar os ventos, mas podemos ajustar as velas.” Muitas vezes o inverno chega porque tinha que chegar mesmo. Alguns casam imaturos, outros não são firmes na sua vida com Deus, e outros foram atropelados por problemas que lhes fugiram ao controle. Assim como as estações da natureza não estão sob nosso controle, existem situações e mudanças que ocorrem na vida de qualquer casal, e que empurram os cônjuges para o inverno sem ao menos consultá-los, ou ainda, sem terem tempo de entender ou discernir aquilo que os atingiu. Doenças, depressão, desemprego, falta de sintonia nos ajustes sexuais, impotência, frigidez, abusos sofridos na infância, a morte de um filho, etc., são, infelizmente, problemas próprios da vida e podem jogar seu casamento para o frio. A boa notícia é que ninguém precisa se acomodar a nenhum destes problemas. A boa notícia é que é possível superar o inverno.
Há cura para aqueles que, como o salmista, buscarem ao Senhor: “Senhor meu Deus, a ti clamei por socorro, e tu me curaste” (Sl. 30:2). Do ponto de vista bíblico, são as lutas e provações que produzem o amadurecimento da fé, o que também é valido para os relacionamentos conjugais: “Meus irmãos, considerem motivo de alegria o fato de passarem por várias provações, pois vocês sabem que a provação da fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.” (Ti. 1:2-4).
Preste atenção nas palavras de Chapman (2006, p. 36):
“Existe uma saída, e ela começa com a esperança. O frio do inverno, muitas vezes, estimula um desejo de cura e saúde. É o doente que procura um médico e encontra a cura. Com freqüência, o casamento no inverno leva os casais a se desesperar a ponto de saírem de seu silencioso sofrimento e procurarem ajuda... Aqueles que procurarem ajuda vão encontrá-la.”
O inverno pode ser uma estação difícil, mas nele muitos casais descobrem o valor de ajudar, cooperar e tomar atitudes para vencer o frio. Um homem de meia-idade que passava por problemas no casamento testemunhou: “Percebemos que, pela dor, redescobrimos nossas raízes, afirmamos nossa fé e crescemos em caráter”. Há uma grande benção quando um procura aquecer ao outro: “Melhor é serem dois... também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará?” (Ec. 4:9a e 11) Com o passar dos anos acompanhando casais, pude testemunhar que muitos saíram do inverno mais fortes. Sair do inverno nos relacionamentos não é um caminho fácil, mas, com certeza, é melhor do que morrer de frio. O inverno é a estação das crises, mas, ao mesmo tempo, a estação das oportunidades, de uma lareira, de um quentão, de tomar um chocolate quente, de passear em Campos do Jordão.
Encerro com Chapman novamente (2006, p. 38): “Quando duas pessoas tomarem a decisão de se amar novamente, é o gelo derretido do inverno que regará as sementes da primavera. O inverno terá cumprido o seu objetivo.”