AS QUATRO ESTAÇÕES DO CASAMENTO - Parte 7

2.2.2 – A apatia é, sem dúvida, a marca mais visível, mais aparente de um casamento no outono. Lembre-se que no outono nem todas as folhas caem no mesmo dia, mas quando a apatia tomou conta de um relacionamento a dois, observamos que muitas folhas já caíram e em breve a árvore ficará seca e só os galhos aparecerão... Alguma coisa precisa mudar, mas as pessoas vão se acomodando, deixando o tempo passar, abrindo mão dos sonhos. É a péssima estratégia da filosofia do: “deixa estar para ver como é que fica”; tais pessoas foram vencidas pelo hábito, e o hábito fica rançoso. Assim, com o passar dos anos, ao invés das coisas se resolverem, elas tendem a piorar, visto que a apatia vai ocupando espaços e se instala como se fosse mais um membro da família.
O dicionário define apatia como “ausência de sentimento”, “indiferença”, “insensibilidade” ou “falta de energia”. A apatia é a ausência de alguma coisa, mas, no casamento, e é para isto que quero chamar sua atenção, ela também representa a presença de outra coisa, neste caso específico, a relação perfeita de causa e efeito que se retroalimentam com tristezas, aborrecimentos e pequenos problemas que nunca são conversados e por isso vão se acumulando. Mudanças deveriam acontecer de ambas as partes, mas que nunca acontecem. Apatia e negligência andam juntas, são dois lados da mesma moeda. Assim comenta Chapman (2006, p.79): “Sem dúvida, a negligência é o que leva os casais à estação do outono no casamento. Quando marido e esposa, deixam o relacionamento à deriva, os dois sempre se afastam um do outro.” A apatia, portanto, é um tipo de negligencia com o compromisso dos votos conjugais, transformando-se em sintoma de algum problema, indicando uma condição patológica de origem emocional, no caso da vida a dois. A apatia é um verdadeiro triangulo amoroso, do tipo “Dona Flor e Seus Dois Maridos”: o terceiro é invisível, mas está presente e atuante. Toma banho, vai para a cama, faz as refeições, tira férias e até vai para a igreja junto com o casal. Ora, se o outono exige mudanças, a apatia é a maior desgraça desta estação. O outono só será superado por casais que aceitem dar um basta às negligencias.
A Bíblia nos ensina que: “Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tiago 4:17). Irmãos, isto inclui o casamento. “Mas, pastor”, alguém pode retrucar, “o senhor não disse que os problemas do outono no casamento são meio indefiníveis; então, como pode ser pecado se não compreendemos exatamente o que está acontecendo na relação e não sabemos o que fazer?”. É verdade, o outono era conhecido como “o tempo do ocaso”, o momento específico do Sol poente, se escondendo, quando a noite está chegando, mas o dia ainda não se foi; o outono era entendido como a estação das coisas no lusco-fusco. Ainda assim, há uma coisa muito bem definida no outono, preste atenção: as coisas estão mudando e você tem que vencer a apatia para mudar também. A noite está chegando e isto você sabe. Ore, leia bons livros, freqüente congressos e retiros para casais, procure aconselhamento, converse, faça qualquer coisa para mudar se preparando para uma nova fase. As estações do ano mudam; nós também precisamos. Este é, na minha opinião, o único caminho do crescimento, fortalecimento e amadurecimento para um casamento.
2.2.3 – Ilustrações do outono. Duas situações são comuns e ilustrativas de como a apatia age nos casamentos durante o outono. A primeira ilustração, bastante séria, é a figura da empresa. Os casais, na estação em que as coisas não são quentes e nem são frias, funcionam mais ou menos como uma empresa. Gradativamente o casamento vira um negócio. Os cônjuges são sócios num negócio chamado família, pagam contas, tem contas a receber, fazem reuniões, discutem o futuro, administram a casa, organizam a fluxograma da despensa, declaram imposto de renda e investem no futuro dos filhos. Uma empresa pode ser bastante eficiente e as pessoas até determinadas em fazê-la funcionar, mas casamento é, sobretudo, relacionamento. É interessante observar que apatia também pode ser “ausência de paixão”. Se existe o perigo do extremo da paixão adolescente, o outro extremo, igualmente perigoso no outono, é a frieza do casamento-empresa. Ceder à “ilusão adolescente da paixão que nunca arrefece”, é tão prejudicial ao casamento quanto deixar se levar “espírito gerencial”.
A outra ilustração vem de uma constatação cada vez mais confirmada por aquilo que os estudiosos sobre o tema família chamam de “síndrome do ninho vazio”. As pessoas passam tanto tempo acomodadas ao outono, acreditando, ingenuamente, que ao cuidar do negócio chamado família, estão ao mesmo tempo cuidando do relacionamento, e não estão. Acabam se acostumando aos problemas sem se darem conta que uma mudança está em curso. Vão vivendo assim até que os filhos saem de casa, o que normalmente precipita uma crise e, em alguns casos, até numa separação surpreendente depois de vinte, trinta anos de união.
O papel de pai e mãe ocupa um espaço significativo na vida do casal. Neste papel importantíssimo de papai e mamãe as coisas funcionam, o negócio chamado família anda. Até que um dia os filhos saem de casa, e os cônjuges, por causa da casa vazia, percebem que existe também um grande vazio na relação entre os dois. Na verdade o vazio já estava lá, só que submerso na apatia e camuflado pelos filhos.
Acho que a melhor maneira de tratar esta questão é ler para os irmãos dois relatos, um masculino e outro feminino, de pessoas que enfrentaram este problema típico de um relacionamento no outono.
O primeiro relato é de um marido, que, abrindo o coração, se dizia “desanimado e desprezado”. Ouça com atenção, por favor:
“Acho que o principal problema foi a falta de comunicação. Nós nos ocupamos tanto com a questão de ter de educar nossos filhos e de ganhar a vida, que não demos prioridade ao tempo um com o outro. Por conseqüência nós nos distanciamos” (citado por Chapman, 2006, p. 79)
Agora, ouçamos o relato de uma esposa com vinte anos de casada. Esta mulher se dizia “preocupada com o futuro do casamento”. Perceba, por favor, o desalento destas palavras:
“Muitas mudanças estão acontecendo em nossa vida... Muitos anos de nosso casamento concentraram-se nos filhos. Percebemos que, em algum momento ao longo do caminho, toda a nossa atenção havia se voltado para nossos filhos, e não realmente para nós como casal. O que vamos fazer?” (citado por Chapman, 2006, p.75).
O que mais chama minha atenção nestes relatos é que o marido sabe que tudo aquilo, de certa forma, foi por falta de uma boa comunicação no casamento; e a esposa, por sua vez, mesmo confusa em relação ao futuro, sabia que o problema estava no fato de que todo o investimento dela e do esposo havia sido feito nos filhos, não sobrando nada para o casal.
2.3 – O lado positivo do outono
Há uma boa notícia para os casais que se sentem no outono: ele não é o fim se os cônjuges entenderem que algo precisa mudar. Na estação do outono algo está mudando porque os ciclos da vida conjugal assim exigem. As folhas caem porque algo novo precisa nascer no futuro. Este “algo novo” nascerá, com a benção de Deus, se o casal parar de fingir que as coisas vão bem quando os sinais emocionais estão dizendo o contrário.
Quando as folhas começam a cair os problemas estão se tornando visíveis, e é aí que o outono pode representar uma grande oportunidade para melhorar seu casamento. É muito bom pensar com otimismo sobre o outono porque, no Brasil, ele é também o período de grandes colheitas, simbolizando que o outono pode sim transformar-se num período de fartura para aqueles que se dedicaram a plantar.
Encerro com as palavras de Charles Swindol:
“Deus move-se graciosamente sobre nossas vidas, nos levando do verão para o outono, uma estação onde Ele misteriosamente escreve sua agenda nas páginas dos nossos corações. Pacientemente Ele espera a mudança começar e a faz sem nenhuma exceção. O outono já chegou em sua vida? [...] O outono de sua vida pode ser desconfortável... [Quando as folhas caem] a vida está nas raízes, O Senhor Deus é especialista em raízes...”.