RESTAURAÇÃO (Parte II) - Condição do passado, razão no presente e vitória no futuro - (1Co 15. 51 a 54 e (Tt 3. 5, 8 e 14)
Antes de entrarmos nas questões anteriores, relativas ao encontro do senhor Jesus com Pedro. Precisamos trabalhar um pouco o entendimento do conceito de restauração. Creio que para vermos com clareza a profundidade da obra de Deus e seus propósitos é preciso compreender o que significa restauração na perspectiva da graça.
Restaurar é recuperar. É o ato de restabelecer ou restituir a uma condição anterior. A restauração é um ato tão importante que no caso de obras de arte artistas estudam materiais e tons de tintas da época para restituir a obra a sua imagem original. Há caso de uso da física, química e arqueologia para estudo de restauração não só de objetos de arte mas também de construções. Não há como restaurar sem ações importantes e essenciais.
A idéia de restauração recua até os grandes profetas do Velho Testamento. Estes previram a disciplina e o exílio do povo de Deus mas também falaram da restauração que Deus operaria em favor de seu povo (Jr 27.22; Dn 9.25, Malaquias entre outros). Essa mensagem de restauração foi associada ao Messias (Is 61). Dentro de certa perspectiva a restauração é uma coisa futura. No Novo Testamento Pedro vê isto desde cedo em suas cartas.
Temos de atentar também para o fato de a restauração ter grande referência com o passado. O Novo Dicionário da Bíblia, de J.D. Douglas, declara o seguinte: “Ë legítimo inferir que a restauração salienta algum estado tal como o desfrutado pelo homem antes da queda, ainda que não exista qualquer mensagem bíblica que o declare abertamente”. Em resumo a restauração objetiva nos levar a recuperação da imagem e semelhança de Deus como operada no Éden. O que no presente só se pode vislumbrar de modo parcial quando vivemos uma vida de santidade e serviço a Deus (a nova criatura para quem está em Cristo 2Co 5.17), mas que no futuro será uma recuperação plena a transformação da natureza humana em natureza incorruptível: “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de dolhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados... E quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita (Is 25.8): “Tragada foi a morte pela vitória” (1Co 15. 51 a 54). Assim restauração tem aspectos do presente e do futuro vinculados a obra de Deus e nossa condição no passado do Éden. Enfim, a restauração faz referência ao passado (queda), aponta para o futuro (bênção do porvir) e mostra as condições do presente (a busca de uma vida a imagem de Deus – vida de santidade e serviço).
Não há dúvida que a obra reconciliadora de Cristo foi feita para que pudéssemos ter nosso relacionamento com Deus restaurado. Que a condição original do Éden fosse restituída. Era preciso recuperar a imagem e semelhança de Deus atingida pelo pecado. Precisarmos entender, como dissemos a pouco, que essa reconciliação restauradora de Cristo tem aspectos tanto do passado, como do futuro e do presente.
A referência do passado é a quebra do relacionamento perfeito com Deus e de nossa condição de liberdade.
O futuro que nos aponta a restauração profética de Malaquias, entre outros profetas; passando pela redenção do homem e da própria natureza, conforme de Romanos 5 e 8. 18 a 25. E do presente que nos conduz a restauração de nosso relacionamento com Deus já. De nossa vida santificada de uma nova criatura diante de Deus e dos homens agora.
Quanto ao aspecto futuro temos a pergunta dos discípulos sobre o a restauração de Israel em Atos 1.6: “Então os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino de Israel?”. Ao que Cristo respondeu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade”. E falou Cristo, creio eu, dos aspectos da restauração presente quando continuou sua resposta: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, com em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.
Creio que a Palavra de Deus que nos fala de restauração futura como restituição do passado se concentra de modo preponderante em nossa condição presente. Ambas são reflexos do amor de Deus, mas a restauração operada pela reconciliação de nosso relacionamento por meio da morte de Cristo reflete muito mais a graça de Deus pelo testemunho em nossos relacionamentos presentes do que nossa condição futura apresenta pelas declaração da Carta aos Coríntios. E nisto o Evangelho de João é muito rico. Quando Jesus lava os pés dos discípulos em João treze suas palavras são: “nisto sabereis que vós sois meus discípulos quando vós vos amardes uns aos outros”. O que podemos interpretar como: é através dos relacionamento em graça e serviço de vocês que reconhecerão vossa restauração. Que saberão que vocês são meus filhos. Daí João dizer em sua carta: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados seus filhos” 1 Jo 3.1. E por isso que a Carta a Tito declara: Ele vos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo... e quero que no tocante a essas cousas, faças afirmação confiadamente, para que os que t6en crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas cousas são excelentes e proveitosas aos homens... e que aprendam também a distinguir-se nas boas obras, a favor dos necessitados” (Tt 3. 5, 8 e 14).
No encontro de Jesus com Pedro, no Evangelho de João, vejo uma belíssima ilustração da força da restauração de Deus em nossas vidas e um síntese dos aspectos presentes da obra de restauração de Cristo para nossas vidas, relacionamentos e para sentido de nosso chamado e/ou serviço. Nesse encontro vejo o poder da ação restauradora da graça de Deus e do resultado que pode gerar essa restituição de condição. Enfim, aquilo que a graça de Deus pode fazer em nossas vidas, relacionamentos e missão como cristãos.
A busca de Jesus a Pedro e a pergunta de Cristo: Pedro tu me amas? Nos leva a refletir Porque Jesus foi até Pedro? O que Cristo desejava fazer a Pedro e o que isso representa pra nós?
É o que veremos em nosso próximo encontro. Sabendo que a a graça restauradora de Deus passa pela pessoa e obra de Cristo. Cristo que por sua obra nos trás a grande pergunta: tu me amas?
Até lá vislumbremos e nos alegremos na glória restauradora do porvir e vivamos um vida que possa responder positivamente, no presente, a pergunta de Jesus: tu me amas?
Deus o abençoe.
Se quiser falar sobre este tema estou pronto a ouvi-lo no e-mail pr.alex@dialogocristao.com - Pr ALEX RIBEIRO CARNEIRO