Parte 24 - Os Cinco “Vs” da Vida Pessoal e Familiar Abundante
O TERCEIRO “V” – AS PEÇAS DO VESTUÁRIO
MISERICÓRDIA (continuação)
Se Deus é nosso Pai, como filhos nós devemos parecer com Ele, ou seja, devemos ser capazes de amar aqueles a quem ninguém amaria. Repito, ser cristão é vestir-se de misericórdia primeiramente porque Deus é misericordioso. Em um sentido bíblico mais amplo, a misericórdia está presente na vida do cristão porque o Deus Pai deseja ver neles duas qualidades: a) a primeira é a compaixão. Misericórdia é uma qualidade que Deus coloca em nós, através qual somos afetados pela compaixão de maneira suficiente a nos fazer agir em favor de alguém que esteja sofrendo. Misericórdia não é um discurso de solidariedade, misericórdia é a solidariedade ativa, motivada por um sentimento profundo de dor pela dor do outro. Conforme a definição do Dr. Russel Shedd, “misericórdia é a compaixão ativa por aqueles que sofrem”. Não é apenas um sentimento de “dó”, não é apenas aquela coisa passiva diante de uma situação triste onde balançamos os ombros de dizemos “mas que pena, fazer o que não é?”. Quando estamos vestidos de misericórdia, esta peça importantíssima do vestuário cristão, nosso coração nos impele à ação. Foi assim com o bom samaritano que achou uma pessoa ferida na estrada de Jericó. Conforme o texto, muitos passaram de largo, inclusive os religiosos, mas o samaritano, ao ver a cena do homem assaltado e ferido largado à beira da estrada “moveu-se de íntima compaixão por ele” (Lc. 10:33); b) a segunda qualidade da misericórdia é o perdão. É por isso que Jesus coloca nas bem-aventuranças que “os misericordiosos alcançarão misericórdia” (Mt. 5). Se Deus coloca miseráveis em seu coração é porque Ele olha para estes miseráveis pecadores através do perdão. O cristão é alguém tão profundamente transformado pelo perdão de Deus, tão intensamente tocado pela grandeza do perdão de Deus, que ele se torna capaz de fazer do perdão recebido um perdão oferecido àqueles que contra ele pecaram, traumatizando-o, perseguindo-o, entristecendo-o e até mesmo o magoando (repetir). É na junção destas duas qualidades que a misericórdia se materializa na nossa vida: no perdão alcançamos a libertação da amargura, e na solidariedade compassiva encontramos o alívio da consciência agulhada pela omissão. Os misericordiosos vencem a omissão, e se sentem em paz consigo e com Deus; os misericordiosos vencem a amargura, este sentimento terrível que tortura a alma, e se sentem em paz consigo e com o próximo.
Encerro com uma história contada no Congresso de Missões de Amsterdã, no ano de 1980. Um africano, guerreiro masai se converteu a Cristo e foi para o interior de seu país evangelizar uma tribo inimiga. Queria ardentemente falar das boas novas de Cristo a todos e contar da alegria de receber Jesus como Salvador. Foi e anunciou a Jesus com todo o entusiasmo, mas ficou impressionado, pois além das pessoas daquela tribo não se importarem ficaram extremamente violentos. Os homens o agarraram e prenderam-no ao chão, enquanto as mulheres o espancavam com chicotes e arames farpados, o que era uma grande humilhação. Foi arrastado e jogado num matagal desacordado de tanto apanhar. Quando acordou conseguiu chegar até um riacho e beber água, alternando momentos de consciência e insconsciência enquanto se recuperava. Depois de recuperado pensou “será que eu não contei a história de Jesus direito? Depois de repassar várias vezes a história mentalmente, resolveu voltar e pregar novamente àquela aldeia. Espancaram-no com mais violência ainda, reabrindo as feridas que já haviam começado a cicatrizar. Acreditando que ele estava morto jogaram seu corpo novamente no matagal. Ter sobrevivido à primeira surra foi notável, à segunda foi um milagre. Recuperou-se a alguns dias depois decidiu voltar, e desta vez estava tão fraco que só conseguia falar “Ele morreu por vocês... ele morreu por vocês”. Lembra-se que perdeu a consciência falando “ele morreu por vocês”, o que fez uma mulher chorar... Quando recobrou a consciência estava numa cama, sendo cuidadosamente tratado por aqueles que o haviam espancado três vezes. Todos da aldeia se converteram a Cristo.