Mensagens ministrada do ACAMPAMENTO DE CASAIS da Igreja Presbiteriana de Taubaté– 2008 – em SÃO LOURENÇO, MG, do Ver.Cláudio Correia dos Reis
TEMA: AS QUATRO ESTAÇÕES DO CASAMENTO
Parte 1 – Pressupostos e Introdução
“Durante a era glacial, muitos animais morreram por causa do frio. Os porcos-espinhos, seguindo seu instinto de sobrevivência, começaram a se agrupar em bandos e se ajuntaram em cavernas. Desta maneira se protegiam e também se agasalhavam, aquecendo-se mutuamente no inverno sem fim.
Mas os espinhos, por causa da proximidade, feriam aqueles que se achegavam mais. Percebendo que a proximidade machuca, alguns se afastaram novamente e, por causa disto, morreram de frio. Perceberam então que, se a proximidade machuca, a distância trazia a morte, e assim se adaptaram aos pequenos ferimentos da proximidade conseguindo vencer aquelas difíceis circunstâncias.
Só sobreviveram aqueles que perceberam que, ainda que a proximidade os ferisse, também venceriam o frio pelo calor uns dos outros.
Moral da história: a proximidade pode até machucar, mas o distanciamento é igual à morte.
Faço questão de colocar alguns pressupostos importantes, os quais, espero, possam nortear aquilo que vamos estudar, enquanto pensamos sobre o tema “As Quatro Estações do Casamento”:
• Eu acredito na graça de Deus. Não acredito em regras, não acredito em fórmulas, não gosto de receitas e nem de respostas prontas. Algumas coisas que vamos falar aqui podem ser boas e alguns princípios podem ajudar o seu casamento “se” a graça de Deus abençoar você. É nisto que eu creio: Deus nos abençoa por Sua graça e Sua graça pode alcançar o casamento das pessoas.
• Os casamentos crescem ou regridem. A estagnação não é um estado, é, em minha opinião, uma parte da regressão, ou seja, quem pára de crescer não apenas pára, mas em algum momento, quem estagnou, vai começar a andar para trás. Cada cônjuge precisa se dedicar para enriquecer seu casamento, fazer a sua parte para o casamento não apenas se manter mas também crescer. Os que se satisfazem em apenas “manterem-se casados”, podem um dia ser surpreendidos ao perceber que seu casamento já está muito rápido ladeira a baixo.
• Nenhum relacionamento é tão ruim que não possa ser abençoado, e nenhum relacionamento é tão bom que dispense continuar sendo abençoado. Ou, como nas palavras de Nascimento (2001): “Não existe casamento tão ruim que não possa ser consertado e tão pouco casamento tão bom que não possa ser melhorado”. Em outras palavras, Deus tem bênçãos para todos os tipos de casamento, desde o extremo mais infeliz até ao outro extremo do mais feliz.
• Eu não acredito em relacionamentos perfeitos, apenas em relacionamentos abençoados. A perfeição não é uma condição acessível a nenhuma das coisas do homem, nem mesmo ao casamento. A ilusão do casamento perfeito é um veneno, uma ilusão romântica que só se justifica por nossas projeções distorcidas de uma infância infeliz, traumatizada, ou por falta de conhecimento bíblico de que o pecado tornou a existência pós-Éden e pré-Céu, portanto “aqui e agora”, manchada pelo erro. O antídoto à ilusão do casamento perfeito é a verdade bíblica de que Deus abençoa seres imperfeitos como eu e você e por isso é possível construir um casamento feliz. Para mim, casamento feliz na Bíblia é sinônimo de casamento abençoado, e não de casamento perfeito...
• Por fim, agradeço a Deus por perdoar os meus pecados e agradeço a Glaucia por perdoar minhas contradições.
• Ah, por favor, desconsiderem o efeito estufa e o buraco na camada de ozônio...
INTRODUÇÃO
Desde de antiguidade a humanidade associa os humores do homem relacionando-os com os fenômenos da natureza. Em sua trajetória, o ser humano, várias vezes lançou mão do cosmos a fim de procurar coisas que pudessem ajudá-lo numa auto-compreensão. O homem olhava para a natureza em busca de respostas acerca de si mesmo: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Os astros, as marés, as estações do ano, eram observados de forma contemplativa, não apenas pela beleza da natureza como fazem os poetas, mas também porque o homem buscava respostas, pistas, até mesmo um espelho para enxergar melhor a sua própria existência. Talvez, o maior exemplo disto seja a astronomia. Neste sentido, o salmista olha para o firmamento e numa exclamação diz “os céus proclamam a glória de Deus” (Sl. 19:1), observando que na criação está manifesta a existência, a perfeição, a mão de Deus, do qual eu sou uma privilegiada criatura. A natureza, portanto, nos diz um pouco de quem nós somos: não estamos aqui por acaso; nossa existência foi pensada num propósito; somos filhos do Deus Criador.
As quatro estações fazem parte do processo no qual o movimento orbital da Terra em torno do Sol produz mudanças climáticas que fazem parte do ciclo vital do nosso planeta, fundamental para a sobrevivência do homem. Os chineses foram os primeiros a relacionar os humores do homem às quatro estações do ano: primavera, verão, outono e inverno eram como que símbolos da natureza que ajudavam a compreender a personalidade das pessoas. Já entre os gregos, que estão mais próximos de nós e constituem boa parte da base do pensamento ocidental, credita-se a Pólibo (médico do 6º séc. a.C.), a criação da teoria que entendia as origens das doenças de acordo com os humores despertados a cada estação: em cada estação do ano, de acordo com a predominância do frio, calor, ar seco ou úmido, o comportamento do homem frente às condições climáticas características e predominantes em cada estação, especialmente calor e frio, o predispunha à incidência de certas doenças. Deste modo, ao longo dos séculos, foi se cristalizando o entendimento de que a primavera, o verão, o outono e o inverno, de certa forma, podem ajudar na compreensão do temperamento, da saúde e do comportamento do ser humano.
Ao chegarmos na modernidade, com o advento da ciência aplicada através de métodos racionais, houve um grande avanço na medicina e o nascimento da psicologia científica. Desde então, com estes novos conhecimentos, o homem já não se baseava mais neste entendimento, de relacionar as estações do ano com as fases da vida, a fim de explicar patologias ou tipos diferentes de temperamento. Porém, e é muito importante você prestar atenção nisto, por fazer parte da cultura universal, a teoria de relacionar as estações do ano com fases da vida ou com o jeito de ser das pessoas, tornou-se um símbolo, uma metáfora, um ponto de partida muito utilizado por escritores, pensadores e poetas, para pedagogicamente discutir nossos sentimentos, nossos humores e as fases da vida de uma pessoa.
A ênfase, portanto, está na analogia, da qual Eclesiastes também faz uso ao dizer “a juventude e a primavera da vida são vaidade” (11:10). O que vamos estudar nestes dois dias é, na verdade, uma descrição dos relacionamentos conjugais a partir daquilo que se repete caracteristicamente em cada estação do ano. Vamos analisar os sentimentos que cada uma delas pode simbolicamente expressar, e como esposo e esposa podem entender estas fases, com suas oportunidades e perigos, com suas possibilidades e ciladas.
As estações do ano sempre significaram para a humanidade um estado de permanente mudança. Do mesmo modo, as mudanças que acontecem na vida de todas as pessoas podem criar climas, temperaturas e situações diferentes que afetam o casamento. Se é fato que as mudanças fazem parte da vida, precisamos entender que nosso casamento é afetado por elas, ou seja, os relacionamentos conjugais, assim como as estações, estão sempre mudando. Uma coisa é a lua-de-mel, outra coisa é o diagnóstico de uma doença grave; uma coisa é o nascimento de um filho enchendo a casa de alegria, outra coisa é a partida dos filhos e a sensação de que o ninho ficou vazio e o casamento ficou sem foco; uma coisa é ter as finanças em equilíbrio, outra coisa é o dinheiro cobertor curto (os irmãos sabem o que é o dinheiro cobertor curto? É o meu...), não dá para esticar, se cobrir o pé, a cabeça fica de fora, se cobrir a cabeça o pé fica gelado, está sempre faltando cobrir alguma coisa. Tudo isto afeta o clima do casamento.
Aproveito para citar as palavras de Chapman (2006, p. 12-13), as quais poderiam ser também as minhas em face da nossa experiência ser bastante parecida com a dele:
“Minha experiência, tanto em meu próprio casamento quanto no aconselhamento de casais em mais de trinta anos, sugere que os casamentos estão em constante estado de transição, passando de uma estação para outra, talvez não todos os anos, como ocorre na natureza, mas é certo que esta transição sempre acontecerá. Algumas vezes nós nos vemos no inverno, desanimados, desinteressados e insatisfeitos; outras vezes experimentamos a primavera com sua sinceridade, esperança e expectativa. Em outras ocasiões ainda, apreciamos o calor do verão, ficamos mais à vontade e relaxamos desfrutando a vida. E depois pode vir o outono com sua incerteza e apreensão. O ciclo pode se repetir muitas vezes ao longo da vida de um casamento, assim como as estações se repetem na natureza.”
Dois esclarecimentos ainda são importantes, antes de tratarmos das quatro estações do casamento propriamente ditas. Primeiro, que não entendo as quatro estações do casamento como uma experiência universal, obrigatória ou igual para todo mundo. Todas as pessoas têm pelo menos uma coisa em comum: suas diferenças. Embora o inverno seja uma estação que existe para todo o planeta, o inverno do hemisfério norte é bem diferente do inverno do hemisfério sul, ou seja, da mesma forma que o casamento existe para todo mundo, cada casal é um casal único. Espero que não venhamos a cair no simplismo e ignoremos que não é possível tratar de relacionamentos humanos, complexos por natureza, como se fossem sempre uma mesma coisa, de forma linear e ascendente. Por causa disto, faço questão de dizer que não concordo com a teoria das estações que faz uso destes símbolos para ensinar que a primavera é a juventude, o começo do casamento, empolgante, o verão a época da educação dos filhos e do trabalho, o outono são as folhas caindo com os filhos saindo de casa (ora, nós latinos e índios como somos, gostamos dos filhos pertinho), e hoje a Sociologia já fala da geração Canguru, dos filhos que nunca saem de casa ou, ao menos, nunca se tornam independentes...), e o inverno é o final da vida onde o frio faz tudo enrugar e cair.
Chapman nos ajuda mais uma vez (2006, p.12): “Embora haja certa verdade nesse tipo de analogia, ela me parece uma descrição um tanto simplista do casamento.” Por que, meus irmãos, não é tão certinho assim, nessa seqüência de que tudo começa na primavera e termina no inverno? Por que o ser humano faz escolhas! Algumas das nossas escolhas são tão infelizes que a vida inteira da pessoa é um inverno, e seu casamento mais parece um inferno. Outros vivem a vida conjugal inteira numa média, sempre ali entre a primavera e o outono, nunca tão quentes como o verão, mas também não deixam as coisas ficarem tão frias como o inverno. E também há outros que passam as quatro estações do ano em um único dia, uma loucura, um verdadeiro desastre ecológico, de manhã é o verão quentinho, beijinho, beijinho, e à noite é frieza total e paulada para todo o lado.
Em segundo lugar, as estações do casamento são apenas uma teoria que toma como base os fatores climáticos sobre os quais o reino vegetal nada pode fazer. Os seres humanos não são assim; os seres humanos não são árvores. Nós podemos fazer algo, e é por isso estamos aqui, espero... Chegado o outono uma árvore nada pode fazer se não vir suas folhas caindo, uma planta não pode interferir nesse processo natural. Mas, homem e mulher não estão à mercê das intempéries do tempo. Criados à imagem e semelhança de Deus temos a capacidade de tomar decisões, e nossas decisões podem mudar o clima do nosso casamento, para o bem ou para o mal. Fomos criados inteligentes e responsáveis para escolher, por isso devemos ter bem claro em nossas mentes que as quatro estações do casamento vêm a vão, são fases que podem ser passageiras ou duradouras, com seus desafios próprios que vão depender de nossa decisão, escolha e vontade. Homens não são árvores...
Em nome de Jesus, por favor, preste atenção nisto: podemos escolher! Podemos escolher atitudes capazes de abençoar nosso casamento! Por isso Deus nos trata como responsáveis. Por isso, como já aconteceu, quando em meu gabinete atendo um casal com o relacionamento deteriorado e vejo a derrota em suas palavras “pois é pastor, não deu... não era o que agente queria, mas não deu...”, numa postura de quem aceita a morte do casamento, eu digo “escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt.30:19). Se o reino vegetal é predeterminado e passivo em relação às estações climáticas, os casais não, portanto é possível aprender, mudar, perdoar, decidir e, com base em nossas escolhas, mudar o clima do relacionamento. “Escolhe, pois, a vida”. Irmãos, vamos escolher a vida para o casamento!
Continuaremos refeltindo sobre essa abnçoadora mensagem em nosso próximo encontro, através do tema INVERNO: a estação das crises.